Domingo, Fevereiro 21, 2010
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Às moscas
Com beleza invulgar, a presença da “miss” chamava a atenção.
MARCUS ARANHA
Quinta feita passada foi aniversário de nascimento de Anayde Beiriz, que veio ao mundo em 18 de fevereiro de 1905.
Com exceção de uma excelente “Carta a Anayde Beiriz” publicada na imprensa pelo Profa. Mariza de Oliveira Pinheiro, nenhuma outra menção, nenhuma homenagem foi feita a esta paraibana emblemática e mulher heróica que viveu no começo do século passado.
Apesar da origem modesta, filha de um gráfico do jornal “A União”, as amizades que fez na Escola Normal, onde estudou, aliadas ao cultivo das letras, permitiram Anayde frequentar rodas da sociedade, comparecendo a tertúlias e saraus denominados “líteros-dançantes”, realizados periodicamente em residências de personalidades sociais da época.
Pesou ainda para a aceitação dela na alta sociedade o fato de ter obtido o primeiro lugar em um concurso de beleza promovido pelo jornal “Correio da Manhã”. Com beleza invulgar, a presença da “miss” chamava a atenção.
Começou a seguir um caminho intelectual vinculada ao “Modernismo”, movimento encetado por intelectuais, na Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, em São Paulo.
Nesse ano, a Escola Normal diplomou mais um grupo de professoras. A mais jovem delas, Anayde Beiriz, com 17 anos, foi laureada como primeira dessa turma e abraçou apaixonadamente as propostas de renovação lançadas depois da Semana de Arte Moderna. Daí em diante a professorinha se pôs numa situação de vanguarda lutando com denodo pelos direitos da mulher.
Definitivamente, tornou-se feminista quase uma personalidade libertária. Passou a defender abertamente a liberdade da mulher e rejeitar a repressão ao seu sexo. Clamava a favor do direito ao voto, naquela época coisa ainda negada às mulheres brasileiras. Tornou-se também jornalista da imprensa nanica.
Há quem diga que Anayde foi uma mulher avançada demais para sua época. Com certeza ela foi uma das precursoras do movimento feminista e poderia ser considerada o primeiro ícone feminino do modernismo na Parahyba, assemelhando-se a Patrícia Galvão, a Pagu, de projeção nacional e tida como musa do modernismo brasileiro.
Demonstrando seu partidarismo pela liberdade absoluta, Anayde desprezava as restrições feitas às mulheres e aos preconceitos daqueles tempos. Lutava contra o maniqueísmo e o obscurantismo reinantes na sociedade predominantemente masculina da década de 20.
Há depoimentos que relatam Anayde como precursora de novas modas, rompendo barreira impostas ao sexo feminino na década de 20. Usar rouge e batom, sair a rua desacompanhada e cortar os cabelos “a la garçonne, foram atitudes mostradas por testemunhas oculares, as que marcaram a professora e intelectual como lutadora contra o falso moralismo e os modelos arcaicos que se impunham as mulheres.
Em 1928, Anayde começou um relacionamento com o advogado João Duarte Dantas, que em julho de 1930 assassinou a tiros o presidente da Parahyba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. A partir daí, a Parahyba do Norte, terra natal querida de Anayde, para ela, tornou-se um Gólgota...
Há uma praça com o nome dela no bairro do Valentina Figueiredo.
Simbolizando hoje, a ingratidão das autoridades e dos organismos feministas da Paraiba, o logradouro está às moscas.
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