Posted: 02 Aug 2010 11:24 AM PDT Em enquete com 60 escritores, levantamos os dilemas enfrentados por autores em busca de editoras Anos atrás, o editor Paulo Roberto Pires presenciou uma inflamada discussão acerca do excesso de autores estreantes que as grandes editoras andariam colocando no mercado. Ele sabia que, a qualquer momento, um dos críticos poderia apontá-lo entre os culpados pelo que seria "falta de parcimônia" editorial. Como jornalista cultural, depois um dos organizadores da primeira Flip (2003) e, por fim, editor em duas das maiores casas publicadoras do País, a Planeta e a Ediouro, ele apresentou a um público mais abrangente alguns dos principais nomes da Geração 00, como João Paulo Cuenca, Joca Reiners Terron e Santiago Nazarian. Pires não considera isso negativo. "Se um escritor é bom ou ruim, o tempo é quem diz. Era preciso sacudir o mercado naquele momento em que era enorme a diferença entre o que se editava e o que se via de interessante na internet." O fato é que atitudes como a dele ajudaram a estimular a aceitação a novos autores. "A internet alterou o perfil do lançamento de um estreante", avalia Vivian Wyler, gerente editorial da Rocco. "Está mais fácil ser autor agora do que quando quem badalava sua obra era visto com desconfiança, como se não tivesse a pátina correta de eruditismo. Hoje, ninguém vai criticar quem quer estar onde os leitores estão. As feiras literárias estão aí para provar." A exposição só não alterou o fato de que a publicação por uma grande editora marca, em geral, o momento em que tudo muda na trajetória de quem quer viver de literatura – ou se tornar uma pessoa jurídica, como diz Cristovão Tezza, que pôde parar de dar aulas e viver apenas em razão de seus livros desde que O Filho Eterno, publicado pela Record, abocanhou quase todos os prêmios literários de 2008. "É importante a recepção que o livro tem quando vem de uma grande. As pessoas olham diferente para um livro da Companhia das Letras, por exemplo", diz Antonio Prata, que ingressou nesse olimpo literário em 2003, com As Pernas da Tia Coralina, publicado pela Objetiva. O Sabático resolveu saber dos próprios autores qual o impacto de uma grande editora em sua carreira, como foi o caminho até ela e como se sentem a respeito numa época em que, cada vez mais, surgem boas casas de pequeno ou médio porte no País – como a 34, a Iluminuras e a Ateliê Editorial, só para ficar em três exemplos. Numa espécie de pesquisa informal, enviamos pequenos questionários a quase 70 escritores de todas as idades, dos quais 60 aceitaram participar. As questões foram feitas em cima do primeiro título lançado com distribuição nacional e grande alcance de divulgação. E que, na maior parte dos casos, não foi o primeiro que tiveram editado – Lya Luft, por exemplo, escreveu o primeiro livro 13 anos antes de chegar à Record, onde virou best-seller com As Parceiras, em 1980; Ana Miranda escreveu dois de poesias por editoras pequenas e ficou 10 anos retrabalhando o mesmo romance até enviar os originais de Boca do Inferno para a Companhia das Letras – foram mais de 200 mil exemplares desde 1989. É claro, o caminho é bem mais rápido para quem não se dedica a outros trabalhos antes, como Lya, ou não se debruça tanto tempo sobre a mesma obra, como Ana. As duas, que estrearam em grande editora com 40 e 37 anos, respectivamente, estão acima da média de idade que os participantes da enquete tinham quando chegaram lá, 34 anos. Quase um quarto dos escritores (23%) conseguiu fechar um contrato no mesmo ano em que terminou de escrever o primeiro livro – apostas em iniciantes, como no caso dos autores editados por Paulo Pires, ajudam a engrossar esse número; prêmios literários e publicações anteriores de contos em periódicos e antologias também. Mas um número parecido (20%) esperou mais de uma década desde as primeiras tentativas literárias até receber um convite de uma grande editora. Caso de gente como Affonso Romano de Sant'Anna (que esperou 22 anos até, aos 38, ter Poesia sobre Poesia publicado pela Imago), Cristovão Tezza (17 anos tendo obras recusadas até Traposair pela Brasiliense) e Marcelo Mirisola (15 anos escrevendo livros até ser convidado pela Record a lançar Joana a Contragosto). Mas Mirisola, assim como Marcelino Freire e outros escritores, já era conhecido quando teve o romance editado pela maior editora do País. O reconhecimento chegou com Fátima Fez os Pés para Mostrar na Choperia, que a Estação Editorial, uma editora de médio porte, publicou em 1998. "No meu caso, não mudou nada", diz o paulistano sobre o título que saiu pela Record. Tanto que, depois disso, voltou para uma editora média, a 34, e em breve terá um infantil (a quatro mãos com Furio Lonza) pela Barcarolla. IndicaçõesSó quatro dos 60 autores (Mirisola, Ana Miranda, João Almino e Tiago Melo Andrade) disseram que recomendações feitas por outros escritores ou pessoas próximas não facilitam o caminho para um iniciante. Tirando um ou outro que preferiu não emitir opinião a respeito, a grande maioria respondeu ao Sabático que a indicação abre portas, sim – mas todos ressalvaram que apenas permite aos manuscritos uma mãozinha para chegar logo ao topo da pilha de originais. Vinte e um dos autores disseram que escreveram a convite – está certo que boa parte deles já era algo conhecida por textos em antologias, periódicos ou editoras pequenas. Outros 38 afirmaram que enviaram originais; desses, 24 conheciam o editor ou tiveram a tal recomendação, e os 14 restantes afirmaram só ter oferecido os originais nas editoras. E uma única, dentre os 60, recorreu a um agente – Ana Maria Machado, publicada pela Francisco Alves, uma das grandes em 1983. "Nos EUA, é mais comum iniciantes contratarem agentes. Por aqui é raro o autor se arriscar a pagar um agente sem a certeza da publicação; isso só costuma acontecer quando eles já estão com carreira mais estabelecida", diz a editora Izabel Aleixo. Por curiosidade, metade dos 38 autores que foram bem-sucedidos após enviar originais preferiram fazê-lo para uma só editora – uma espécie de ética que as casas publicadoras não exigem e que pode acabar sendo um problema para quem aspira ser editado. Luciana Villas Boas, diretora editorial da Record, por exemplo, diz que não vê mais originais em papel não solicitados. "Não há como. Se vem um e-mail, a gente até se situa. Se achar que a carta está bem feita e que existe um mínimo de potencial, vai para leitura. Recebo uns 25 emails por mês, sem falar nos que recebem todos os outros editores, e uma quantidade absurda de papel que não serve para nada." Vivian Wyler, gerente editorial da Rocco, diz que passam de 150 os originais que chegam por mês à editora. A Rocco não veta os que chegam em papel, mas exige que todos venham gravados em CD – se o autor quiser mandar a impressão em anexo, fica por conta dele. "E, vou te dizer uma coisa, 98% dos livros. logo nas primeiras páginas, senão na carta de apresentação, você vê que não é um livro de verdade. Não falo nem de regras gramaticais, e sim de um mínimo de estilo, de consciência literária", diz Izabel Aleixo, ex-diretora editorial da Nova Fronteira, que acaba de assumir cargo na Paz e Terra. Isso faz com que bons livros se percam na montanha de aspirações literárias. E é aí que entra a recomendação. Não porque vá privilegiar alguém, mas porque permite a triagem. Mas nem todos são adeptos da fidelidade. Elvira Vigna, ao terminar O Assassinato de Bebê Martê, abriu um catálogo do Snel (sindicato dos editores) e mandou uma cópia do romance a cada editora cujos nome reconheceu. Em menos de um mês, recebeu a resposta de uma das melhores do País, a Companhia das Letras. Nelson de Oliveira também mandou seus contos de estreia para cerca de 20 editoras, mas precisou esperar oito anos, ganhar um prêmio, o Casa de Las Americas, e ser recomendado por um dos jurados, Rubem Fonseca, para publicar pela mesma casa Naquela Época Tínhamos um Gato>. Hoje, voltou a publicar por pequenas editoras: "Não há mais muita diferença. Em geral, as pequenas se profissionalizaram." Ignácio de Loyola Brandão, que mandou cópias de seu Depois do Sol para 13 editoras, recebeu cartas padrões de quase todas e uma que não esqueceu, da Civilização Brasileira: "O autor escreve como quem mija." "Achei até que era elogio, mijar é um ato natural", conta. Acabou sendo publicado logo pela Brasiliense – e o editor Caio Graco, lembra Ignácio, aceitou a obra sem nem fazer reparos de edição. Autores falam sobre o primeiro livro"Já na Ateliê (de médio porte), com o Angu de Sangue, em 2000, minha vida literária mudou. Fui bastante resenhado, divulgado. Não sou desses que ficam com a bunda na cadeira, reclamando de editor" Marcelino Freire "As pessoas olham diferente para um livro da Companhia das Letras, por exemplo. Se fica mais fácil? Creio que sim. Mas não acho que no Brasil publicar seja problema. Isso é fácil. Difícil é vender" Antonio Prata "Aprendi que as pessoas não querem palpite nem sugestões, querem endosso e apadrinhamento. Qualquer restrição ou dica, por mínima que seja, é vista como ofensa e se ganha um desafeto" Ana Maria Machado "A passagem da Revan (de pequeno porte) para a Nova Fronteira não significou nada. Meu desempenho de público até piorou. Tanto que a Nova Fronteira não quis um segundo livro meu" Alberto Mussa "Aquele era o meu livro, era o livro possível, e se o editor fosse mais invasivo a obra não seria tão autêntica. Prefiro caminhar com as minhas próprias pernas e aprender com os meus próprios erros" Adriana Lisboa "A gente também passa a fazer outros trabalhos: textos de prosa e ficção para jornais, orelhas de livros, palestras. Para isso, é imprescindível ser publicado por uma grande editora, é evidente" Cintia Moscovich "Editoras grandes ajudam sobretudo em distribuição e divulgação, mas é precipitado dizer que necessariamente trazem mais público. Nada impede que isso seja alcançado em publicação independente" Daniel Galera "Quem leu (o primeiro livro que escrevi) achou péssimo e tive de concordar antes de enviar a qualquer editora. Mas todo livro é o primeiro. Já tive livros recusados depois de publicar o primeiro" Bernardo Carvalho "(A indicação) facilita o acesso à editora, mas não garante a publicação. É lenda achar que, por conhecer o autor ou ser amigo de alguém de seu círculo, o editor vai publicar o livro" Cristovão Tezza Fonte: Estadão |
Mercado Editorial - O incerto caminho dos novos escritores até a publicação
Outros projetos do Instituto
Outros projetos do Instituto Artefato Cultural
Foto de Patrícia Galvão atuando como jornalista (arquivo Lúcia Teixeira Furlani)
O instituto prepara o lançamento, para este ano, do livro De Pagu a Patrícia, resultado de cinco anos de pesquisa de Márcia Costa, que desenvolveu uma dissertação de mestrado sobre o tema. A obra será lançada no ano do centenário de Pagu e fala sobre a atuação cultural e jornalística de Patrícia Galvão na década de 50, em Santos. Durante o lançamento do livro será apresentada uma peça teatral sobre Pagu. Este projeto foi enquadrado no Artigo 18 da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet.
Outro projeto do instituto enquadrado no Artigo 18 da Lei Rouanet é o "Dicionário sem Educação", uma obra literária com textos humorísticos e ilustrações caricatas que trata de forma satírica assuntos absolutamente sérios e importantes ligados à educação brasileira. A abordagem dos temas tem um tom de denúncia e ridicularização com o intuito declarado de chamar a atenção para nossas mazelas educacionais e provocar mudanças nessa área tão deficiente na sociedade brasileira. O autor é o semanticista Celso Ferrarezi, com ilustrações do caricaturista Douglas Souza, o Dodô.
O instituto busca aprovar também através da Lei Rouanet o Teatro Educativo Roberto Villani (TERV), que há 43 anos atende crianças a partir dos quatro anos de idade, provenientes de família de baixa renda, fornecendo noções de cidadania através do teatro. A temática das peças é voltada a princípios pedagógicos, e a apresentação delas é intercalada com aulas e palestras. Estima-se que o TERV já atendeu a cinco mil alunos durante sua existência. Iniciou suas atividades na Baixada Santista e foi transferido para Descalvado (interior de SP) há seis anos.
http://revistapausa.blogspot.com/2010/05/rota-literaria-passeio-poetico-pelo.html
Outros projetos do Instituto
Outros projetos do Instituto Artefato Cultural
Foto de Patrícia Galvão atuando como jornalista (arquivo Lúcia Teixeira Furlani)
O instituto prepara o lançamento, para este ano, do livro De Pagu a Patrícia, resultado de cinco anos de pesquisa de Márcia Costa, que desenvolveu uma dissertação de mestrado sobre o tema. A obra será lançada no ano do centenário de Pagu e fala sobre a atuação cultural e jornalística de Patrícia Galvão na década de 50, em Santos. Durante o lançamento do livro será apresentada uma peça teatral sobre Pagu. Este projeto foi enquadrado no Artigo 18 da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet.
Outro projeto do instituto enquadrado no Artigo 18 da Lei Rouanet é o "Dicionário sem Educação", uma obra literária com textos humorísticos e ilustrações caricatas que trata de forma satírica assuntos absolutamente sérios e importantes ligados à educação brasileira. A abordagem dos temas tem um tom de denúncia e ridicularização com o intuito declarado de chamar a atenção para nossas mazelas educacionais e provocar mudanças nessa área tão deficiente na sociedade brasileira. O autor é o semanticista Celso Ferrarezi, com ilustrações do caricaturista Douglas Souza, o Dodô.
O instituto busca aprovar também através da Lei Rouanet o Teatro Educativo Roberto Villani (TERV), que há 43 anos atende crianças a partir dos quatro anos de idade, provenientes de família de baixa renda, fornecendo noções de cidadania através do teatro. A temática das peças é voltada a princípios pedagógicos, e a apresentação delas é intercalada com aulas e palestras. Estima-se que o TERV já atendeu a cinco mil alunos durante sua existência. Iniciou suas atividades na Baixada Santista e foi transferido para Descalvado (interior de SP) há seis anos.
http://revistapausa.blogspot.com/2010/05/rota-literaria-passeio-poetico-pelo.html
Outros projetos do Instituto
Outros projetos do Instituto Artefato Cultural
Foto de Patrícia Galvão atuando como jornalista (arquivo Lúcia Teixeira Furlani)
O instituto prepara o lançamento, para este ano, do livro De Pagu a Patrícia, resultado de cinco anos de pesquisa de Márcia Costa, que desenvolveu uma dissertação de mestrado sobre o tema. A obra será lançada no ano do centenário de Pagu e fala sobre a atuação cultural e jornalística de Patrícia Galvão na década de 50, em Santos. Durante o lançamento do livro será apresentada uma peça teatral sobre Pagu. Este projeto foi enquadrado no Artigo 18 da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet.
Outro projeto do instituto enquadrado no Artigo 18 da Lei Rouanet é o "Dicionário sem Educação", uma obra literária com textos humorísticos e ilustrações caricatas que trata de forma satírica assuntos absolutamente sérios e importantes ligados à educação brasileira. A abordagem dos temas tem um tom de denúncia e ridicularização com o intuito declarado de chamar a atenção para nossas mazelas educacionais e provocar mudanças nessa área tão deficiente na sociedade brasileira. O autor é o semanticista Celso Ferrarezi, com ilustrações do caricaturista Douglas Souza, o Dodô.
O instituto busca aprovar também através da Lei Rouanet o Teatro Educativo Roberto Villani (TERV), que há 43 anos atende crianças a partir dos quatro anos de idade, provenientes de família de baixa renda, fornecendo noções de cidadania através do teatro. A temática das peças é voltada a princípios pedagógicos, e a apresentação delas é intercalada com aulas e palestras. Estima-se que o TERV já atendeu a cinco mil alunos durante sua existência. Iniciou suas atividades na Baixada Santista e foi transferido para Descalvado (interior de SP) há seis anos.
http://revistapausa.blogspot.com/2010/05/rota-literaria-passeio-poetico-pelo.html
Natureza Morta
TERÇA-FEIRA, 27 DE ABRIL DE 2010
Patrícia Galvão, publicado com o pseudônimo de Solange Sohl
Os livros são dorsos de estantes distantes quebradas.
Estou dependurada na parede feita um quadro.
Ninguém me segurou pelos cabelos.
Puseram um prego em meu coração para que eu não me mova
Espetaram, hein? a ave na parede
Mas conservaram os meus olhos
É verdade que eles estão parados.
Como os meus dedos, na mesma frase.
Espicharam-se em coágulos azuis.
Que monótono o mar!
Os meus pés não dão mais um passo.
O meu sangue chorando
As crianças gritando,
Os homens morrendo
O tempo andando
As luzes fulgindo,
As casas subindo,
O dinheiro circulando,
O dinheiro caindo.
Os namorados passando, passeando,
O lixo aumentando,
Que monótono o mar!
Procurei acender de novo o cigarro.
Por que o poeta não morre?
Por que o coração engorda?
Por que as crianças crescem?
Por que este mar idiota não cobre o telhado das casas?
Por que existem telhados e avenidas?
Por que se escrevem cartas e existe o jornal?
Que monótono o mar!
Estou espichada na tela como um monte de frutas apodrecendo.
Si eu ainda tivesse unhas
Enterraria os meus dedos nesse espaço branco
Vertem os meus olhos uma fumaça salgada
Este mar, este mar não escorre por minhas faces.
Estou com tanto frio, e não tenho ninguém...
Nem a presença dos corvos.
Imagem: Louise Bourgeois